Como fazer uma migração windows para Linux bem sucedida
Nem todos reunem as condições para uma migração total exitosa.
Provavelmente, sua empresa permanecerá em ambiente híbrido por mais alguns anos.
Veja os pontos críticos que podem fazer ou quebrar o resultado do esforço de migração.
Planejamento
Planeje muito bem para evitar o fracasso e ser obrigado a retroceder, perdendo ainda mais dinheiro.
Conscientize-se de que será um processo de longo prazo, conforme a situação de dependência.
O Banco do Brasil levou SEIS ANOS planejando e se preparando para INICIAR o processo efetivo de migração.
Foram treinamentos, planos, benchmarks, projetos pilotos cada vez maiores para avaliações e correções.
Hoje dão conferências sobre seu método.
O equivalente à Receita Federal Francesa planejou um processo de migração em OITO ANOS para conclusão.
Conheça o ambiente
Eventualmente, haverão fatores que não pode controlar.
Ou aparentemente não relacionados. Ou ainda "ocultos".
Podem haver regulamentos, portarias, regras, parceiros externos que forcem a continuar usando, ao menos limitadamente, o windows e alguns programas.
Como exemplo, até a alguns anos atrás, a Receita Federal só viabilizava a declaração de renda em programas windows.
Os bancos brasileiros também só operavam com home banking em plataformas windows. (Você sabia que a Microsoft é acionista do Bradesco?) Apesar das horrendas falhas de segurança do navegador IE e do próprio sistema operacional.
Outro tipo de fator fora de controle: numa certa grande empresa, a esposa do chefe do departamento de compras era a dona de uma distribuidora da Microsoft. Qual a chance de migração para software livre nesse caso?
Outro tipo de fator: são até divulgadas na imprensa as viagens patrocinadas a políticos e empresários até congressos, seminários e visitas à sede da Microsoft.
Há empresários que não enxergam nenhum problema ético na pirataria. E nem acreditam em punições.
Quem tem o poder de decisão?
É você?
A pessoa que decide reune os conhecimentos e informações para poder julgar corretamente?
Infelizmente, na maioria dos casos os tomadores de decisão são os mais sujeitos à influência do marketing.
Fator humano
O mais importante fator do processo.
Condição "sine qua non" para o êxito.
Também o que mais tomará tempo de planejamento, estudos, preparações, pilotos, investimentos, treinamentos, psicologia.
Espere investir 70% da verba e tempo nesse fator.
Abaixo disso será provável o fracasso. Ou sua empresa reune condições ótimas, espetaculares mesmo. Mas não conte com isso.
Quase todos os problemas que ví resultam de "economia" ou "inabilidade" no trato com fator humano no processo.
Jamais superestime sua equipe
Sem treinamento e preparação psicológica, não haverá êxito.
Provavelmente haverão protestos veementes e até mesmo sabotagens.
Staff
A vasta maioria dos trabalhadores das empresas NÂO está interessada em tecnologia.
Dispendeu um enorme esforço para estar adestrada nas idiossincrasias do sistema windows e nos programas.
Adestrada porque não foi instruida a pensar com lógica.
Porque o windows e seus programas não têm lógica.
É preciso decorar uma miríade de procedimentos. Inconsistentes, ilógicos, incoerentes, obscuros até.
Para uma pessoa que só quer fazer o seu trabalho, é uma enorme dificuldade decorar tudo.
E agora, anos e anos depois, ter de mudar?
O que ela ganha com isso?
Nem pensar!
Ela não está interessada nos lucros e vantagens que a empresa terá.
Está preocupada com as vantagens que ELA terá.
Você precisará identificar os dispostos a aprender algo novo.
Você precisará planejar adotar políticas de treinamento, premiação, recompensas, reconhecimentos públicos, e até promoções.
No Metrô de São Paulo uma tática foi declarar que computador novo e mais poderoso só teria software livre onde possível.
Resistência a mudanças
Faça uma avaliação psicológica de sua equipe com o objetivo deste processo. Contrate uma consultoria organizacional se necessário.
É uma mudança e mudanças assustam as pessoas visceralmente.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
E ainda pode não ser suficiente para seu caso.
Projetos piloto de TREINAMENTO e PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA
Nesta fase, você ainda não investiu em tecnologia.
Esta é uma fase de avaliação e preparação PSICOLÓGICA.
Você terá de fazer projetos pilotos em vários estágios.
O primeiro estágio envolverá aqueles usuários dispostos.
O segundo estágio envolverá uma participação ampliada com mais alguns "indiferentes" ao processo.
O terceiro estágio ampliará os participantes ainda mais, envolvendo os resistentes.
Talvez os projetos pilotos demonstrem que sua cultura organizacional não comporta mais uma mudança dessa magnitude no prazo que você gostaria.
Talvez demore 35 anos...
Mas você PRECISA avaliar isso ANTES de começar.
Equipe técnica.
Porque sua equipe técnica possue diplomas e certificações em windows e programas, não quer dizer que resolverão os problemas técnicos em outras plataformas.
É todo um universo diferente.
Os problemas que afetam o staff também afetam a equipe técnica.
E com agravantes: o investimento pessoal foi muito maior.
A ênfase em treinamentos e preparações é muito maior e mais crítica.
Mas há diferenciais.
A equipe técnica é mais racional e suscetivel a argumentação lógica.
A maioria sente-se atraída por oferta de conhecimentos. Mais treinamentos.
Também é mais crítica, questionadora e identificará falhas na sua argumentação rapidamente.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
No processo de migração, quase que certamente você terá de contar com consultoria externa.
Experiência no ambiente de software livre é fundamental para o processo de migração.
E não vai poder prescindir de sua equipe técnica, que possui conhecimento da sua organização.
The Economic Motivation of Open Source Software: Stakeholder Perspectives
Only the Pronoid Survive
The Emerging Economic Paradigm of Open Source
Jamais subestime sua equipe
As empresas são feitas e constituídas por pessoas.
A empresa chegou até aqui devido a colaboração das pessoas que a integram.
Do presidente até o mais humilde funcionário.
Você pode desconhecer talentos ocultos na equipe.
Agora você precisará encontrá-los e fazer participar proeminentemente do processo.
Staff
Possuem conhecimentos do dia a dia da empresa.
Muita coisa não está documentada e é passada por tradição oral para as novas "gerações" de funcionários.
Se você já fez a avaliação psicológica organizacional, já identificou os líderes naturais.
Isso nada tem a ver com poder ou hierarquia.
Liderança natural é algo conquistado e reconhecido pelos colegas e não concedido por uma hierarquia.
Você TERÁ de chamar esses líderes naturais a participar do processo de migração para software livre e Linux desde as fases iniciais e planejamento.
Não interessa se eles são dispostos a aprender algo novo ou se são extremamente resistentes.
Você TERÁ de chamá-los a participar e ajustar o processo conforme suas características e poderes de influência.
Se você não fizer isso condenará o projeto ao fracasso.
Os colegas respeitam e acatam as opiniões deles.
Isso é VITAL.
Se os líderes naturais "carimbarem" o processo de migração para software livre e Linux como algo bom, estará metade garantido o êxito.
Se carimbarem como ruim, o fracasso é certo.
Equipe técnica
A esta se adiciona o conhecimento dos processos técnicos e não documentados.
Indispensável.
Você TERÁ de prestigiar sua equipe técnica.
Cursos, treinamentos, recompensas, reconhecimentos ainda mais enfatizados.
Atraia os técnicos com a ênfase no reconhecimento da capacidade técnica na comunidade. Com o conhecimento sem barreiras artificiais e econômicas no software livre. Não há limites para o que um técnico possa saber.
Encontre os líderes naturais e os convide a participar desde o início.
Você tem a decisão final, mas a equipe técnica precisa ter a prerrogativa de procedimentos sobre a consultoria externa e isso PRECISA ficar claro, explícito a todos.
Todos têm de saber o que você quer, os objetivos e seus critérios de aceitação, e todos têm de saber que sua equipe técnica tem prerrogativas sobre o processo.
Sem os líderes, treinamentos e prerrogativas, o processo de migração para software livre não terá sucesso.
Há uma cultura diferente no software livre.
O compartilhamento de informações, a envergadura intelectual e humildade são valorizadas.
O comportamento inverso é repudiado.
Vale o reconhecimento da comunidade. Líderes (técnicos ou políticos) são os naturais.
Não há poder formal constituido que possa ser exigido até as últimas conseqüências.
As pessoas são respeitadas por sua competência nas variadas tarefas.
Não há segredos duradouros devido à natureza do software livre.
Aliás, o sucesso aumenta na medida em que tudo seja feito às claras.
Isso pode ser um choque cultural na sua empresa.
Você precisará deixar claros os novos critérios de avaliação e recompensa e ser ABSOLUTAMENTE coerente e consistente em suas decisões e ações.
Qualquer inconsistência sua será um torpedo abaixo da linha d'água, por menor que seja.
No ambiente corporativo, é comum a cultura de "ter alguém para jogar a culpa" e "apostar só nas confirmadas".
Você precisará identificar os líderes empreendedores, dispostos a assumir responsabilidades por escolhas que envolvam riscos.
Prestigie e recompense estes líderes.
Estime e autorize uma margem de erro por risco de ao menos 20% como recompensa também.
Quem nunca errou é porque nunca tentou.
Quem nunca tenta, também nao vai acertar na evolução.
E quem não evolui é atropelado no ambiente hipercompetitivo.
Aliás, nada mais darwiniano que software livre.
É a hipercompetição levada ao pináculo e sem clemência com os incompetentes.
O custo de substituição é baixo, por adoção de padrões abertos e processo e codificação às claras.
Por isso software livre não é para todos.
Projetos técnicos piloto
Depois que for resolvida a abordagem psicológica, então será o momento economicamente viável para iniciar os projetos técnicos pilotos em número de aplicações e grupos de usuários cada vez maiores.
Não reinvente a roda
Um erro infelizmente comum é de ser decidido implementar uma "distribuição própria e personalizada" de Linux para sua empresa.
Isso é extremamente caro a longo prazo.
Se for necessário compilar com modificações um pacote, sua empresa assumirá o custo de manter a auditoria de segurança e manutenção. Se for além de um papel de parede e opões (nos arquivos de configuração em /etc) e escolha de pacotes para instalar, IRÁ ficar caro. Raramente se justifica economicamente.
O Projeto Debian possui mais de mil desenvolvedores cadastrados. O Projeto Fedora aproximadamente 1000 desenvolvedores. A Red Hat aproximadamente 500 desenvolvedores. Todos esses desenvolvedores se esforçando para manter suas distribuições seguras, consistentes e confiáveis.
Será que montando uma equipe de 30 desenvolvedores será suficiente para você bem manter uma distribuição própria?
O Projeto Debian possui recursos técnicos que viabilizam a criação mais econômica de Custom Debian Distributions (CDD) se for realmente necessário.
O melhor caminho seria adotar soluções de pré-configuração (pre-seeding) e instalações em massa com FAI e Cfengine.
Restrinja-se ao máximo possível em ficar com a distribuição padrão, só alterando arquivos de configuração e, eventualmente, temas visuais de desktop.
Ficará mais barato no longo prazo.
Se for realmente necessário modificar programas, esforce-se ao máximo para conseguir que sua modificação seja aceita como contribuição para o código fonte original. Assim ela passará a ser examinada, corrigida e evoluida coletivamente, reduzindo seus custos .
Migre primeiro algumas aplicações
Procure começar com algumas aplicações desktop comuns e multiplataforma e para alguns usuários.
BrOffice.org (OpenOffice.org no Brasil) onde não precisem macros e formatações esotéricas.
Navegador web Firefox (Iceweasel), leitor de e-mail Thunderbird (Icedove) e Evolution (que se comunica com MS Exchange) são exemplos.
Progressivamente. Analise os programas equivalentes para cada categoria.
Avalie o grau de dependência para cada um e o custo de migrar.
Defina que toda aplicação NOVA será em alguma plataforma livre e que as proprietárias são consideradas como legado.
Procure migrar para aplicações web (ou intranet) onde for viável. Há novos clientes ricos com XUL , comoLuxor , JavaWS, OpenXUP , Thinlet , Open XUL Alliance , XUL Planet . Ajax é limitado e problemático demais e para intranet o custo / benefício não vale a pena.
Defina que os dados e informações passarão a ser salvos em formatos abertos, regidos por padrões livres (ODF, HTML, mbox, SQL, txt, etc) ou ao menos abertos (PDF).
Isto é vital.
Não será possível migrar tudo. Uma das habilidades do software proprietário é aprisionar tecnologicamente os usuários tornando o custo de substituição o mais alto possível.
No lado servidor, poderá usar bancos de dados PostgreSQL, servidores Web Apache, servidores de email, servidores Tomcat e Jboss.
Avalie o OpenXchange e o PostPath se for o caso para migrar do MS Exchange.
Depois que já tiver algumas aplicações migradas, será mais fácil migrar o sistema operacional.
Identifique as aplicações críticas e proprietárias
Haverão algumas aplicações que não valerão a pena migrar ou que seja impraticável.
Avalie se restarão algumas máquinas apenas com elas, ou se haverão ambientes emulados com Wine, CrossOver, Lin4Win.
Poderá ser interessante rodar windows em ambiente virtual com virtualização total assistida por hardware como nos Xen 3.x ou por software como VmWare.
Identifique se há alguma aplicação crítica presente em grande quantidade de máquinas que precise ou seja muito difícil de migrar ou rodar emulado ou virtualmente.
Deixe claro que as soluções proprietárias passarão ao status de legado e daqui por diante todo investimento priorizará plataformas abertas e livres.
Em alguns anos você poderá ter finalizado uma migração total. Mas aceite que levará alguns anos.
Registre os detalhes
Um velho ditado "O diabo mora nos detalhes", é muito presente num processo de migração para software livre.
Registre tudo e a cada novo passo convoque a equipe para consolidar, debater os detalhes e reavaliar o processo.
É lento, custoso, mas essencial.
Planeje para um ciclo em espiral crescente. É mais realista.
Avalie cuidadosamente as escolhas
Já tendo perfurado cartões para jobs em mainframe, usado DOS 1.0 e também tentado trabalhar com owindows 286 , usado OS/2 e depois várias distribuições Linux a partir de 1998, finalmente conclui que Debian GNU / Linux é onde posso apostar meu ganha pão.
Em âmbito de poder de decisão e em âmbito técnico gerencial, está muito à frente dos outros.
Muito maior controle sobre instalação e configuração. Qualidade, segurança, manutibilidade e gerenciamento priorizadas sobre conveniência. Num ambiente corporativo é uma bênção.
Para o usuário doméstico iniciante, é mais confortável usar Debian BR-CDD que tem pré-configurações mais brandas.
Estude a Constituição do Projeto Debian. Avalie a Política Debian para desenvolvimento. Avalie as ferramentas para desenvolvimento e gerenciamento.
O Projeto Debian possui diversos portes e diversas versões simultâneas.
A versão estável faz jus ao nome. Se precisar algum programa mais novo, use o Backports.org .
Usuários avançados podem gostar de usar a versão Testing.
Desenvolvedores podem preferir a Testing ou até a Unstable.
Não tente usar a versão Experimental para algo que não seja desenvolvimento do próprio sistema operacional.
O Projeto Debian tem dezenas de milhares de programas em seus repositórios oficiais, quase oficiais, e muitos milhares mais em repositórios particulares .
Mas você precisa escolher suas aplicações e configurações conforme suas necessidades. Este link aqui é bastante interessante em conjunto com o citado. Mais links úteis aqui , aqui , aqui , aqui .
E de novo voltamos aos debates com sua indispensável equipe interna, com ajuda da consultoria externa.
Não existe grátis
O software é livre, mas não necessariamente gratuito.
Haverão custos humanos de migração e manutenção dos sistemas.
Mas a vantagen é que serão INVESTIMENTOS no capital intelectual da empresa.
Não mais despesas patrimoniais.
Você pode instituir como premiação adicional converter cada custo de licença migrada para a equipe.
Nos desktops do staff, converta os custos das licenças dispensadas para cada usuário.
Tanto quanto possível, converta em MAIS treinamentos.
Para a empresa, as maiores vantagens serão agilidade, confiabilidade, flexbilidade, controle, independência e maior retorno sobre o capital.
Pois investimento humano é o que mais dá retorno no longo prazo.
Colaboradores motivados e capazes são valiosíssimos e difíceis de repor.
Neste momento, você já pode notar que software livre não é para toda cultura empresarial.
Empresas que não valorizam realmente os funcionários não conseguem se alinhar com os valores do software livre e sempre haverá atritos e custos desnecessários.
Planeje muito bem para evitar o fracasso e ser obrigado a retroceder, perdendo ainda mais dinheiro.
Conscientize-se de que será um processo de longo prazo, conforme a situação de dependência.
O Banco do Brasil levou SEIS ANOS planejando e se preparando para INICIAR o processo efetivo de migração.
Foram treinamentos, planos, benchmarks, projetos pilotos cada vez maiores para avaliações e correções.
Hoje dão conferências sobre seu método.
O equivalente à Receita Federal Francesa planejou um processo de migração em OITO ANOS para conclusão.
Conheça o ambiente
Eventualmente, haverão fatores que não pode controlar.
Ou aparentemente não relacionados. Ou ainda "ocultos".
Podem haver regulamentos, portarias, regras, parceiros externos que forcem a continuar usando, ao menos limitadamente, o windows e alguns programas.
Como exemplo, até a alguns anos atrás, a Receita Federal só viabilizava a declaração de renda em programas windows.
Os bancos brasileiros também só operavam com home banking em plataformas windows. (Você sabia que a Microsoft é acionista do Bradesco?) Apesar das horrendas falhas de segurança do navegador IE e do próprio sistema operacional.
Outro tipo de fator fora de controle: numa certa grande empresa, a esposa do chefe do departamento de compras era a dona de uma distribuidora da Microsoft. Qual a chance de migração para software livre nesse caso?
Outro tipo de fator: são até divulgadas na imprensa as viagens patrocinadas a políticos e empresários até congressos, seminários e visitas à sede da Microsoft.
Há empresários que não enxergam nenhum problema ético na pirataria. E nem acreditam em punições.
Quem tem o poder de decisão?
É você?
A pessoa que decide reune os conhecimentos e informações para poder julgar corretamente?
Infelizmente, na maioria dos casos os tomadores de decisão são os mais sujeitos à influência do marketing.
Fator humano
O mais importante fator do processo.
Condição "sine qua non" para o êxito.
Também o que mais tomará tempo de planejamento, estudos, preparações, pilotos, investimentos, treinamentos, psicologia.
Espere investir 70% da verba e tempo nesse fator.
Abaixo disso será provável o fracasso. Ou sua empresa reune condições ótimas, espetaculares mesmo. Mas não conte com isso.
Quase todos os problemas que ví resultam de "economia" ou "inabilidade" no trato com fator humano no processo.
Jamais superestime sua equipe
Sem treinamento e preparação psicológica, não haverá êxito.
Provavelmente haverão protestos veementes e até mesmo sabotagens.
Staff
A vasta maioria dos trabalhadores das empresas NÂO está interessada em tecnologia.
Dispendeu um enorme esforço para estar adestrada nas idiossincrasias do sistema windows e nos programas.
Adestrada porque não foi instruida a pensar com lógica.
Porque o windows e seus programas não têm lógica.
É preciso decorar uma miríade de procedimentos. Inconsistentes, ilógicos, incoerentes, obscuros até.
Para uma pessoa que só quer fazer o seu trabalho, é uma enorme dificuldade decorar tudo.
E agora, anos e anos depois, ter de mudar?
O que ela ganha com isso?
Nem pensar!
Ela não está interessada nos lucros e vantagens que a empresa terá.
Está preocupada com as vantagens que ELA terá.
Você precisará identificar os dispostos a aprender algo novo.
Você precisará planejar adotar políticas de treinamento, premiação, recompensas, reconhecimentos públicos, e até promoções.
No Metrô de São Paulo uma tática foi declarar que computador novo e mais poderoso só teria software livre onde possível.
Resistência a mudanças
Faça uma avaliação psicológica de sua equipe com o objetivo deste processo. Contrate uma consultoria organizacional se necessário.
É uma mudança e mudanças assustam as pessoas visceralmente.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
E ainda pode não ser suficiente para seu caso.
Projetos piloto de TREINAMENTO e PREPARAÇÃO PSICOLÓGICA
Nesta fase, você ainda não investiu em tecnologia.
Esta é uma fase de avaliação e preparação PSICOLÓGICA.
Você terá de fazer projetos pilotos em vários estágios.
O primeiro estágio envolverá aqueles usuários dispostos.
O segundo estágio envolverá uma participação ampliada com mais alguns "indiferentes" ao processo.
O terceiro estágio ampliará os participantes ainda mais, envolvendo os resistentes.
Talvez os projetos pilotos demonstrem que sua cultura organizacional não comporta mais uma mudança dessa magnitude no prazo que você gostaria.
Talvez demore 35 anos...
Mas você PRECISA avaliar isso ANTES de começar.
Equipe técnica.
Porque sua equipe técnica possue diplomas e certificações em windows e programas, não quer dizer que resolverão os problemas técnicos em outras plataformas.
É todo um universo diferente.
Os problemas que afetam o staff também afetam a equipe técnica.
E com agravantes: o investimento pessoal foi muito maior.
A ênfase em treinamentos e preparações é muito maior e mais crítica.
Mas há diferenciais.
A equipe técnica é mais racional e suscetivel a argumentação lógica.
A maioria sente-se atraída por oferta de conhecimentos. Mais treinamentos.
Também é mais crítica, questionadora e identificará falhas na sua argumentação rapidamente.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
Treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação, treinamento, reavaliação.
No processo de migração, quase que certamente você terá de contar com consultoria externa.
Experiência no ambiente de software livre é fundamental para o processo de migração.
E não vai poder prescindir de sua equipe técnica, que possui conhecimento da sua organização.
The Economic Motivation of Open Source Software: Stakeholder Perspectives
Only the Pronoid Survive
The Emerging Economic Paradigm of Open Source
Jamais subestime sua equipe
As empresas são feitas e constituídas por pessoas.
A empresa chegou até aqui devido a colaboração das pessoas que a integram.
Do presidente até o mais humilde funcionário.
Você pode desconhecer talentos ocultos na equipe.
Agora você precisará encontrá-los e fazer participar proeminentemente do processo.
Staff
Possuem conhecimentos do dia a dia da empresa.
Muita coisa não está documentada e é passada por tradição oral para as novas "gerações" de funcionários.
Se você já fez a avaliação psicológica organizacional, já identificou os líderes naturais.
Isso nada tem a ver com poder ou hierarquia.
Liderança natural é algo conquistado e reconhecido pelos colegas e não concedido por uma hierarquia.
Você TERÁ de chamar esses líderes naturais a participar do processo de migração para software livre e Linux desde as fases iniciais e planejamento.
Não interessa se eles são dispostos a aprender algo novo ou se são extremamente resistentes.
Você TERÁ de chamá-los a participar e ajustar o processo conforme suas características e poderes de influência.
Se você não fizer isso condenará o projeto ao fracasso.
Os colegas respeitam e acatam as opiniões deles.
Isso é VITAL.
Se os líderes naturais "carimbarem" o processo de migração para software livre e Linux como algo bom, estará metade garantido o êxito.
Se carimbarem como ruim, o fracasso é certo.
Equipe técnica
A esta se adiciona o conhecimento dos processos técnicos e não documentados.
Indispensável.
Você TERÁ de prestigiar sua equipe técnica.
Cursos, treinamentos, recompensas, reconhecimentos ainda mais enfatizados.
Atraia os técnicos com a ênfase no reconhecimento da capacidade técnica na comunidade. Com o conhecimento sem barreiras artificiais e econômicas no software livre. Não há limites para o que um técnico possa saber.
Encontre os líderes naturais e os convide a participar desde o início.
Você tem a decisão final, mas a equipe técnica precisa ter a prerrogativa de procedimentos sobre a consultoria externa e isso PRECISA ficar claro, explícito a todos.
Todos têm de saber o que você quer, os objetivos e seus critérios de aceitação, e todos têm de saber que sua equipe técnica tem prerrogativas sobre o processo.
Sem os líderes, treinamentos e prerrogativas, o processo de migração para software livre não terá sucesso.
Há uma cultura diferente no software livre.
O compartilhamento de informações, a envergadura intelectual e humildade são valorizadas.
O comportamento inverso é repudiado.
Vale o reconhecimento da comunidade. Líderes (técnicos ou políticos) são os naturais.
Não há poder formal constituido que possa ser exigido até as últimas conseqüências.
As pessoas são respeitadas por sua competência nas variadas tarefas.
Não há segredos duradouros devido à natureza do software livre.
Aliás, o sucesso aumenta na medida em que tudo seja feito às claras.
Isso pode ser um choque cultural na sua empresa.
Você precisará deixar claros os novos critérios de avaliação e recompensa e ser ABSOLUTAMENTE coerente e consistente em suas decisões e ações.
Qualquer inconsistência sua será um torpedo abaixo da linha d'água, por menor que seja.
No ambiente corporativo, é comum a cultura de "ter alguém para jogar a culpa" e "apostar só nas confirmadas".
Você precisará identificar os líderes empreendedores, dispostos a assumir responsabilidades por escolhas que envolvam riscos.
Prestigie e recompense estes líderes.
Estime e autorize uma margem de erro por risco de ao menos 20% como recompensa também.
Quem nunca errou é porque nunca tentou.
Quem nunca tenta, também nao vai acertar na evolução.
E quem não evolui é atropelado no ambiente hipercompetitivo.
Aliás, nada mais darwiniano que software livre.
É a hipercompetição levada ao pináculo e sem clemência com os incompetentes.
O custo de substituição é baixo, por adoção de padrões abertos e processo e codificação às claras.
Por isso software livre não é para todos.
Projetos técnicos piloto
Depois que for resolvida a abordagem psicológica, então será o momento economicamente viável para iniciar os projetos técnicos pilotos em número de aplicações e grupos de usuários cada vez maiores.
Não reinvente a roda
Um erro infelizmente comum é de ser decidido implementar uma "distribuição própria e personalizada" de Linux para sua empresa.
Isso é extremamente caro a longo prazo.
Se for necessário compilar com modificações um pacote, sua empresa assumirá o custo de manter a auditoria de segurança e manutenção. Se for além de um papel de parede e opões (nos arquivos de configuração em /etc) e escolha de pacotes para instalar, IRÁ ficar caro. Raramente se justifica economicamente.
O Projeto Debian possui mais de mil desenvolvedores cadastrados. O Projeto Fedora aproximadamente 1000 desenvolvedores. A Red Hat aproximadamente 500 desenvolvedores. Todos esses desenvolvedores se esforçando para manter suas distribuições seguras, consistentes e confiáveis.
Será que montando uma equipe de 30 desenvolvedores será suficiente para você bem manter uma distribuição própria?
O Projeto Debian possui recursos técnicos que viabilizam a criação mais econômica de Custom Debian Distributions (CDD) se for realmente necessário.
O melhor caminho seria adotar soluções de pré-configuração (pre-seeding) e instalações em massa com FAI e Cfengine.
Restrinja-se ao máximo possível em ficar com a distribuição padrão, só alterando arquivos de configuração e, eventualmente, temas visuais de desktop.
Ficará mais barato no longo prazo.
Se for realmente necessário modificar programas, esforce-se ao máximo para conseguir que sua modificação seja aceita como contribuição para o código fonte original. Assim ela passará a ser examinada, corrigida e evoluida coletivamente, reduzindo seus custos .
Migre primeiro algumas aplicações
Procure começar com algumas aplicações desktop comuns e multiplataforma e para alguns usuários.
BrOffice.org (OpenOffice.org no Brasil) onde não precisem macros e formatações esotéricas.
Navegador web Firefox (Iceweasel), leitor de e-mail Thunderbird (Icedove) e Evolution (que se comunica com MS Exchange) são exemplos.
Progressivamente. Analise os programas equivalentes para cada categoria.
Avalie o grau de dependência para cada um e o custo de migrar.
Defina que toda aplicação NOVA será em alguma plataforma livre e que as proprietárias são consideradas como legado.
Procure migrar para aplicações web (ou intranet) onde for viável. Há novos clientes ricos com XUL , comoLuxor , JavaWS, OpenXUP , Thinlet , Open XUL Alliance , XUL Planet . Ajax é limitado e problemático demais e para intranet o custo / benefício não vale a pena.
Defina que os dados e informações passarão a ser salvos em formatos abertos, regidos por padrões livres (ODF, HTML, mbox, SQL, txt, etc) ou ao menos abertos (PDF).
Isto é vital.
Não será possível migrar tudo. Uma das habilidades do software proprietário é aprisionar tecnologicamente os usuários tornando o custo de substituição o mais alto possível.
No lado servidor, poderá usar bancos de dados PostgreSQL, servidores Web Apache, servidores de email, servidores Tomcat e Jboss.
Avalie o OpenXchange e o PostPath se for o caso para migrar do MS Exchange.
Depois que já tiver algumas aplicações migradas, será mais fácil migrar o sistema operacional.
Identifique as aplicações críticas e proprietárias
Haverão algumas aplicações que não valerão a pena migrar ou que seja impraticável.
Avalie se restarão algumas máquinas apenas com elas, ou se haverão ambientes emulados com Wine, CrossOver, Lin4Win.
Poderá ser interessante rodar windows em ambiente virtual com virtualização total assistida por hardware como nos Xen 3.x ou por software como VmWare.
Identifique se há alguma aplicação crítica presente em grande quantidade de máquinas que precise ou seja muito difícil de migrar ou rodar emulado ou virtualmente.
Deixe claro que as soluções proprietárias passarão ao status de legado e daqui por diante todo investimento priorizará plataformas abertas e livres.
Em alguns anos você poderá ter finalizado uma migração total. Mas aceite que levará alguns anos.
Registre os detalhes
Um velho ditado "O diabo mora nos detalhes", é muito presente num processo de migração para software livre.
Registre tudo e a cada novo passo convoque a equipe para consolidar, debater os detalhes e reavaliar o processo.
É lento, custoso, mas essencial.
Planeje para um ciclo em espiral crescente. É mais realista.
Avalie cuidadosamente as escolhas
Já tendo perfurado cartões para jobs em mainframe, usado DOS 1.0 e também tentado trabalhar com owindows 286 , usado OS/2 e depois várias distribuições Linux a partir de 1998, finalmente conclui que Debian GNU / Linux é onde posso apostar meu ganha pão.
Em âmbito de poder de decisão e em âmbito técnico gerencial, está muito à frente dos outros.
Muito maior controle sobre instalação e configuração. Qualidade, segurança, manutibilidade e gerenciamento priorizadas sobre conveniência. Num ambiente corporativo é uma bênção.
Para o usuário doméstico iniciante, é mais confortável usar Debian BR-CDD que tem pré-configurações mais brandas.
Estude a Constituição do Projeto Debian. Avalie a Política Debian para desenvolvimento. Avalie as ferramentas para desenvolvimento e gerenciamento.
O Projeto Debian possui diversos portes e diversas versões simultâneas.
A versão estável faz jus ao nome. Se precisar algum programa mais novo, use o Backports.org .
Usuários avançados podem gostar de usar a versão Testing.
Desenvolvedores podem preferir a Testing ou até a Unstable.
Não tente usar a versão Experimental para algo que não seja desenvolvimento do próprio sistema operacional.
O Projeto Debian tem dezenas de milhares de programas em seus repositórios oficiais, quase oficiais, e muitos milhares mais em repositórios particulares .
Mas você precisa escolher suas aplicações e configurações conforme suas necessidades. Este link aqui é bastante interessante em conjunto com o citado. Mais links úteis aqui , aqui , aqui , aqui .
E de novo voltamos aos debates com sua indispensável equipe interna, com ajuda da consultoria externa.
Não existe grátis
O software é livre, mas não necessariamente gratuito.
Haverão custos humanos de migração e manutenção dos sistemas.
Mas a vantagen é que serão INVESTIMENTOS no capital intelectual da empresa.
Não mais despesas patrimoniais.
Você pode instituir como premiação adicional converter cada custo de licença migrada para a equipe.
Nos desktops do staff, converta os custos das licenças dispensadas para cada usuário.
Tanto quanto possível, converta em MAIS treinamentos.
Para a empresa, as maiores vantagens serão agilidade, confiabilidade, flexbilidade, controle, independência e maior retorno sobre o capital.
Pois investimento humano é o que mais dá retorno no longo prazo.
Colaboradores motivados e capazes são valiosíssimos e difíceis de repor.
Neste momento, você já pode notar que software livre não é para toda cultura empresarial.
Empresas que não valorizam realmente os funcionários não conseguem se alinhar com os valores do software livre e sempre haverá atritos e custos desnecessários.
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