Resistência a mudanças...

Uma análise da resistência humana a mudanças, mesmo quando inevitáveis.

Olá,
Num dos artigos referenciados numa entrada de blog anterior, você encontra um trecho no mínimo curioso:
"Você já imaginou por que os grandes caminhões e reboques de auto-estradas são tão altos, dado que se usassem rodas menores eles seriam mais seguros e fáceis de carregar enquanto reduziriam significativamente o uso de combustível?
A resposta é que os primeiros furgões de caminhões foram projetados por construtores de carroças que sabiam qual a altura do cabresto (mais especificamente: aquela estrutura articulada presa aos arreios que faz o reboque da carroça) deveria ser usada para minimizar o esforço numa parelha de cavalos de carga."
E até hoje se constroem caminhões nessa altura, para não causar muito esforço na parelha de cavalos....
Não importa que custem mais caro.
Não importa que sejam mais inseguros, com centro de gravidade alto.
Não importa que gastem mais combustível.
Não importa que seja mais difícil dirigí-los.
"Sempre" foi assim. Assim que se faz. Assim que se deve fazer. Assim que "sempre" se fará.
Reconfortantes estas frases....
A gente se sente mais seguro sabendo que nada mudou, nada muda, nada mudará, não é?
É o ancestral, visceral e instintivo medo de mudanças.
É o medo de se sentir mais inadequado ainda em nova situação.
É o medo de se achar incapaz de se adaptar.
Por pior que seja a situação presente.
Não há esforço em ficar parado e deixar acontecer.
Não há responsabilidades nem cobranças quando outros decidem por você.
Se está errado, a culpa é do outro, que não fez.
Se der errado, a culpa também é do outro, que fez.
Estes conceitos básicos ajudam a interpretar e complementar o seguinte artigo, que mostra que nas empresas, não vale a pena fazer o melhor ou o certo, mas fazer o que o chefe quer.
Mudanças podem balançar "demais" estruturas estabelecidas e MUDAR O EQUILÍBRIO DE PODER.
É mais "garantido" fazer pequenos remendos, consertos, sobre prévios remendos e consertos.
E se foi o chefe quem fez o remendo anterior? Ou mesmo o errado, ou agora inadequado, conceito original?
Recomeçar ou introduzir novo conceito poderia ser percebido como desautorizar o chefe.
Ou fazê-lo admitir que estava errado ou que sua idéia não é mais adequada na situação atual.
"Chefe está sempre certo, pois ele é quem tem poder sobre seu emprego e seu salário."
As idéias do chefe são sempre boas. Você pode apenas melhorá-las um pouquinho mais, pois já são ótimas.
Mesmo quando o chefe está afundando a empresa, ele está sempre certo. Mas o funcionário terá a fama de quem traz boas soluções para o chefe. (cuidado, isto não funcionará em eficazes empresas em franca expansão e evolução, só em empresas, digamos, "tradicionais").
Remendos, sobre remendos, sobre remendos, sobre....
Isto dá um ganho pequeno, aparente, mas VISÍVEL para o chefe, sem mudar o equilíbrio de forças e poder radicalmente.
E sem muito esforço, poucos riscos, tampouco necessidade de análise de alcance de repercussões, nem planejamento.
Aí você se depara com um artigo que mostra como os professores estão com medo de desagradar o fornecedor de informática e ou alterar o status quo nas escolas.
Continua meditando e descobre os empecilhos para adoção ampla do Linux no Canadá e acrescenta novos fatos para meditar.
Começa a ligar os pontos quando vê as falsas vantagens apregoadas do windous* no ambiente escolar.
Com poucas verbas, o setor educacional quase que força os professores a fazerem eles mesmos o suporte de informática ou a aceitar as condições da empresa fornecedora (o caminho mais fácil, mas...)
O tempo é escasso, o trabalho muito, e a maioria não está interessada em dominar a informática, mas a sua respectiva matéria de ensino (trabalho para o qual é pago).
Os chefes estão em todos lugares e o jogo do equilíbrio de poder é acirrado muitas vezes.
Você já não viu este filme?
O trecho inicial deste texto trata de conceitos psicológicos.
Bem, uma notícia é que mudança é algo intrínseco à vida, à natureza e ao universo.
TUDO está em constante mudança inevitavelmente e o mundo não pára de girar só porque eu quero.
Se eu não decidir, alguém decidirá por mim e levará vantagem por isso.
Se eu ficar parado, não me empurram para frente. Atropelam e passam por cima. Mesmo que não se perceba.
Mas a outra notícia é que a negação da existência da mudança é um aspecto psicológico humano cuja solução faz parte do processo de amadurecimento e crescimento de cada pessoa.
E isto não é o profissional de informática que vai resolver.
Agora fica mais fácil de explicar porque as mais exitosas migrações se enquadram, geralmente, no espectro de nuances entre duas categorias limite, em distribuição fortemente assimétrica:
  • migrações lentas e progressivas, em minúsculos passos incrementais, que melhorem incrementalmente soluções presentes e "comprovadas", sempre com garantidas e seguras "rotas de escape" ou "retorno" a cada passo devidamente formalizadas, muito treinamento, convencimento e feedback.
  • migrações totais, em evento único, após extensivo planejamento, preparação e projetos piloto, com treinamento amplo.
Os pequenos ganhos incrementais da primeira abordagem servem para justificar o avanço para cada pequena etapa seguinte.
Os radicais ganhos da segunda abordagem servem para aplacar os medos e ansiedades da equipe.
O caminho a adotar depende do perfil da direção e, por conseqüência, da cultura da empresa.
Isso não cabe ao profissional de informática mudar. É algo com que ele tem de lidar adequadamente.
Também fica mais fácil explicar porque algumas empresas continuam a enterrar cada vez mais recursos humanos, materiais e financeiros em sistemas legados windous* que repetida e sucessivamente demonstram cada vez mais instabilidade, complexidade, inconsistência, incoerência, deficiências conceituais intrínsecas.
Já ouvi uma folclórica constatação desiludida e conformada: "computador é como bicicleta morro acima: se a gente parar de pedalar, cai".
Remendos sobre remendos, sobre remendos, sobre remendos...
Não é irônico constatar que windous* está sendo cada vez mais percebido como um sistema legado que "deve" ser "carregado" do jeito que der por que "tem" de ser assim, porque "sempre" foi desse modo?
Os mais novos não se lembram, mais foi com essa constatação que os microcomputadores pessoais (imitações do Apple* aqui no Brasil por exemplo) PCs, DOS* e depois o windous* ganharam impulso dentro das empresas, 25 anos atrás.

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